sábado, 20 de abril de 2024

A grande manifestação democrática de 21 de abril em Copacabana.

O "Cara" que lembra: O dia 21 de abril de 2024 não acabou!


Num certo dia de março de 1964, "O Cara", ainda menino,  foi acordado pela mãe para acompanhá-la num Comício na Central do Brasil onde ela disse que queria ouvir o que o Brizola e o Jango iam falar  sobre a democracia e a ditadura.

Aos 9 anos de idade, aquele menino não tinha a mínima idéia do que se tratava. Ele achava que "democracia e ditadura" eram duas mulheres que brigavam e aqueles homens iam apartá-las.

Ao chegar na Central, o "Cara", em meio aquele mundo de gente e uns homens falando pelos cotovelos no palanque, o tal Brizola anunciou que o Jango ia falar. Pasmem! Esse Jango era o João Goulart, o Presidente do Brasil que o menino ouvia falar na escola.

O "Cara" que era um bom menino guardou na memória um trecho do discurso do Presidente Jango que nunca esqueceu e que reproduzo a seguir:

"Todos têm o direito à liberdade de opinião e de manifestar também sem temor o seu pensamento. É um princípio fundamental dos direitos do homem, contido na Carta das Nações Unidas, e que temos o dever de assegurar a todos os brasileiros".

Na volta pra casa, o "Cara" queria saber quem era aquele Brizola que parecia ser o chefe do Presidente e falava bem, e que dali em diante, seria seu grande ídolo.

Afinal!

Quem é esse "Cara" que, após o grande discurso do Jango na Central do Brasil, tornou-se fã do  Brizola e passou a tê-lo como seu ídolo?

Quatro anos após aquele discurso, em 26/06/1968, aos 13 anos de idade, esse "Cara", lá estava na Passeata dos Cem Mil, engrossando as fileiras contra a Censura:

Artistas protestam contra a Ditadura Militar na Passeata dos Cem Mil - Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker, dentre outros

Em 1969, já adolescente, com 14 anos de idade, trabalhando no Centro do Rio, o "Cara" pediu à sua mãe para encontrá-lo até a Galeria do Comércio (Av. Rio Branco Banco 120), para assinar a papelada de abertura de sua primeira conta bancária no Banco Rural e naqueles dias, estava acontecendo grandes manifestações no local contra o que dizíamos ser contra a temida Ditadura.

Ao sairem do Banco, mãe e fiho, foram surpreendidos com uma rigorosa repressão da Polícia do Exército. Era bomba de gás lacrimogênio, estocada e borrachada pra todo lado, contra o povo que gritava efusivamente: 
- Abaixo a Ditadura! Abaixo a Ditadura! 

Enquanto o "Cara" queria sair logo dali, a mãe o puxava para dentro da passeata também aos gritos de "Abaixo a Ditadura". Em meio à cacetada comendo solta, a mãe tranquilizava o "Cara" dizendo: 
- "Filho vamos até o Calabouço que tenho uma amiga lá. Comeremos alguma coisa, esperamos a situação melhorar e vamos embora. 
- Tá bom mamãe, respondia o adolescente que coçava os olhos lacrimejados pelo o gás que pairava no ar.
Até que fomos recebidos pelos estudar que estavam em reunião na UNE.
Ao chegarem no Calabouço, a PE recuou e a repressão ficou por conta da PM que já estava baixando a porrada nos estudantes da UNE que lá estavam protestando, e só pararam quando (nós), o pessoal da Rio Branco chegou e foi enchendo o local, até que tudo se acalmou, e o "Cara" seguiu com a mãe rumo à casa de uma tia em Santa Tereza.

Era exatamente em Santa Tereza que aquela Senhora que foi Presidente do Brasil e sua turma havia assaltado a casa da namorada de um ex Governador de São Paulo de nome Ademar de Barros, considerado um dos maiores corruptos de São Paulo, que estava em viagem pela França e lá morreu.

A partir daí, o "Cara" já adolescente (que nessa época, já usava camisa da "Petit balet" e sapato do Souza), foi a um show no Teatro Casa Grande, e começou a desconfiar de alguns dos ídolos, a maioria artistas (muitos hoje beneficiados pela Lei Rouanet) que incentivavam a participação dos manifestantes nos movimentos sociais, enquanto alguns deles ficavam livres para praticarem terrorismo, roubos invasões a quartéis.

Somente em 1980, aos 25 anos de idade, esse "Cara" ingressou na faculdade de direito e tinha como meta lutar pela preservação da democracia, principalmente pelos direitos sociais que estavam em frangalhos, época em que a chapa esquentou ainda mais com a entrada da chamada extrema direita para reprimir mais ainda os movimentos democráticos.

Hoje em dia, fala-se em extrema direita, mas muitos não sabem, nem imaginam o que de fato era. Alguns devem lembrar ou ter escutado falar do Atentado da OAB em 20/08/80, quando a secretária Lyda Monteiro, recebeu uma Carta Bomba que a vitimou de morte. 


Outro caso, foi o Atentado do Rio Centro em 30/04/81, onde se festejava o 1° de maio com um grande show dos renomados artista da época (muitos hoje beneficiados pela lei Rouanet e com pensões e aposentadorias duvidosas), e que uma Bomba explodiu no interior de um Puma, que estava no estacionamento do Centro de Convenções, e feriu muitos trabalhadores.

Mesmo diante de tudo isso, e firme em seus propósitos democráticos, o "Cara" começou a perceber que seus ídolos (principalmente alguns artistas) em verdade, ao invés de lutarem pelo povo, lamentavelmente só queriam se locupletar da sua consciência e transformar os manifestantes  em massa de manobra.

Mesmo ciente disso, aos 29 anos de idade, ainda fã do Brizola (que nada tinha a ver com esse que esteve aí mais uma vez na chefia do Poder do estado), em abril de 1984, o "Cara" que à essa altura já era pai de dois filhos, compareceu com os amigos  da faculdade à Candelária, e participou do que à epoca foi, Um dos Maiores Movimentos Político do Brasil que foi as "Diretas Já".


Em 1989, agora com três filhos, morando próximo ao apto do Brizola na Xavier da Silveira com Atlântica, num dia de praia, o "Cara" foi alertado de que seu ídolo estava na sacada do apto fazendo discurso e, foi lá que o "Cara" ouviu diretamente do Ídolo a célebre frase que ficou na história (em referência ao apoio ao político que, pela terceira vez, voltou ao Poder e que muitos o chamam de descondenado):

"A política é a arte de engolir sapo e eu vou ter que engolir esse sapo barbudo".


Somente em 2010, foi que o "Cara" se conscientizou de que a Presidente que sofreu impeachment e toda a sua corja não valia de nada. 

Posteriormente, ao pesquisar, o "Cara" descobriu que, enquanto ele e a mãe gritavam Abaixo a Ditadura (lá em 1968/1969), em troca das borrachadas da Policia do Exército, com os olhos lacrimejando, a tal mulher que  gostava de ser chamava de Presidenta com seus cupixas que , naquela época, andavam assaltando bancos, quartéis e residências para ajudar os amigos (aqueles lá da lei Rouanet) que se auto-exilaram na europa e em outros paises, não estavam nem aí para as questões sociais, e s.m.j, ainda não estão.Vejam aí alguns deles: 


A partir daí, ciente da precária condição social, política, econômica e financeira que os sucessivos governos que se diziam socialistas deixaram o país, o "Cara" acreditava que acordou a tempo e, hoje até compreende que quem não passou pelos caminhos tortuosos que ele passou, realmente, não consegue avaliar as manobras políticas que perduram até estes dias e vem influenciando o pensamento político de grande parte do povo que continua sendo enganado. 

Agora, idoso, aos 68 anos de idade (59 anos depois - 1964 a 2023), foi que o "Cara" teve a oportunidade de retornar à Central do Brasil, junto aos verdadeiros Patriotas, reunidos em frente ao Quartel General; para correr o risco de protestar pela preservação do Estado de Direito e a manutenção da democracia que acredita ter ajudado a construir e que, na atualidade está  novamente ameaçada de ruir com a complacência daqueles que inventaram uma tal de "trans democracia" e tentam, a todos custo, voltar ao tempo que já passou. Uma verdadeira distopia owreliana onde se vive de forma precária, sofrida e com muito desespero, sob um regime autoritário.

E então! 

Quer saber quem é esse "Cara" que viveu isso, mas, que somente após o ano de 1985 foi que entendeu o real significado do Direito à Liberdade de Expressão e de Manifestação do Pensamento, previstos na Constituição Federal e na Carta das Nações Unidas? Eu te falo: 

- Esse "Cara" sou Eu!

Se, ainda assim, alguém questionar sobre o que isso tem a ver aqui, também respondo:  

- Esse 21 de abril de 2024, é o dia que acredito ficará na história como uma das Maiores manifestações em Defesa da Democracia, do Estado de Direito e da Liberdade de Expressão.

Vamos à Copacabana, no Rio de Janeiro,  exercer a Cidadania. 

Junte-se a nós!